-
Desenvolvimento Regional [nossa autoria]
Arquivo para Download
Fundamentos da Análise e do PlanejamentoA principal característica de nossa metodologia de trabalho é a busca da peculiaridade por oposição à generalidade. Cada território, cada empresa, cada organização, é uma individualidade. Nossa prioridade é trazer à luz estas particularidades. Tudo o que se encontra entorno da “média”, da “moda” ou da mediana é relativamente secundário vis-à- vis o extraordinário. Tal como nos sistemas de análise popularmente identificados pelo acrônimo “FOFA”, centramos nossa pesquisa, de um lado, nas forças e oportunidades particulares, e, de outra, nas fraquezas e ameaças. As fraquezas – os gargalos de um fluxo de produção e renda – orientam a hierarquização de investimentos. As forças – competências extraordinárias, excesso de capacidade, know-how acumulado - orientam as estratégias de foco-especialização e de diversificação produtiva longo prazo.
Objetivamente, esta metodologia envolve privilegiar indicadores como o “Quociente Locacional” (QLs) e seus derivados sobre índices médios, tais como o Índice de Desenvolvimento Humano (da ONU) e assemelhados. Quanto maior o número de indicadores incorporados num índice médio, menos evidentes ficam as forças e fraquezas cruciais. Além disso, os índices usualmente tomam por referência um padrão de desenvolvimento “universal”, desconsiderando relativamente as peculiaridades de um determinado território. Um município cuja população com mais de 18 anos conta, em média, com nove anos de estudo não apresenta um padrão particularmente elevado de qualificação se tomamos como parâmetro os anos médios de estudo em países como Finlândia, Japão, Noruega ou Alemanha. Não obstante, se todos os municípios do seu entorno contarem com uma população adulta com uma média de anos de estudo significativamente inferior (seis anos, por exemplo).
O Quociente Locacional é uma razão (ou uma divisão, uma percentagem) entre duas razões. Sua forma clássica é a razão entre a percentagem de empregados numa dada atividade “A” (por exemplo, Fabricação de Sapatos) na Região X (por exemplo, o Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul) no total de empregados da mesma região X, e a percentagem de empregados na atividade “A” (sapatos) no total de empregados de uma região maior (o Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo). Desta forma, se 20% da mão-de- obra ocupada no Vale dos Sinos está alocada na indústria calçadista e apenas 4% da mão-de- obra do RS, o QL do calçado no Vale dos Sinos frente ao Rio Grande do Sul será de “5” (cinco). Isto significa que o Vale dos Sinos é 5 vezes mais especializado em calçados do que o restante do RS. QLs acima da unidade atestam um grau de dedicação maior do território à atividade. QLs em torno de “1” revelam que o território é tão (ou tão pouco!) especializado na atividade quanto a macrorregião eleita por referência. QLs abaixo da unidade mostram que o território conta com uma especialização abaixo da média (e, no limite inferior, nula) na mesma.
O QL é o principal indicador da função dinâmica – propulsiva ou reflexa (veja-se a aba sobre Nossos Serviços) de cada atividade ou cadeia. Mas o QL também é um indicador de expertise (know-how) e competitividade (escala) relativas de cada atividade e cadeia. Dessa forma, ele ajuda a revelar a “vocação econômica” de cada território. E – o mais importante – ele é um indicador extremamente plástico. Ele pode ser adaptado para as mais diversas variáveis (produção agrícola, estrutura fundiária, papel e magnitude do setor público na economia, etc.). No limite, ele pode ser utilizado até mesmo para avaliar a “vocação econômico-profissional” dos indivíduos. Seja, por exemplo, um aluno particularmente competente (PC) que apresente uma nota média de “oito” (em dez) no conjunto das disciplinas, mas atinja apenas “sete” (em média) nos testes de Matemática. Não obstante este aluno PC pode apresentar vantagem relativa nesta última disciplina. Se, por ventura, a média dos seus colegas no conjunto das disciplinas for de “seis” e em Matemática for de apenas “quatro”, a razão entre as razões – o QL do aluno PC em matemática vis-à- vis seus colegas e potenciais competidores no mercado de trabalho - será (7/8)/(4/6), vale dizer, será de 1,3125.
Em suma: nosso foco são: 1) as competências extraordinárias de qualquer instituição, organização e indivíduo vis-à- vis seus s competidores atuais e potenciais; e 2) as fragilidades (gargalos, elos frágeis) produtivas e competitivas destes mesmos agentes que são passíveis de enfrentamento com recursos primordialmente endógenos. Na medida em que o QL se estrutura como “indicador relacional”, sobre a comparação com as demais organizações e territórios, ele, em suas mais variadas formas, é o nosso principal instrumento analítico.